Jornalista Rogério Borges propõe reflexão ética sobre como tragédias viram espetáculo na mídia em seu novo livro

"Morrer em Público" analisa coberturas sensacionalistas em Portugal e no Brasil e sugere caminhos mais empáticos para lidar com a dor do próximo

O lançamento do novo livro de Rogério Borges, "Morrer em Público", acontece nesta terça-feira (27), na Livraria Palavrear (Foto: O Popular)

O jornalista Rogério Borges lançará, nesta terça-feira (27), a partir das 18h, seu novo livro “Morrer em Público: Sensacionalismo, Fetichização e Sadismo em Coberturas Jornalísticas de Tragédias e Falecimentos de Pessoas Notórias em Portugal e no Brasil”. A divulgação acontecerá na Livraria Palavrear, localizada no Setor Universitário, em Goiânia.

A obra é resultado de sua pesquisa de pós-doutorado, realizada na Universidade Fernando Pessoa, em Portugal, sob orientação do professor Jorge Pedro Sousa, que também assina o prefácio. O livro mergulha nos dilemas éticos que envolvem a cobertura midiática da morte, explorando desde a repulsa até a fascinação que esses episódios despertam.

Questionado pelo portal Gazeta Culturismo sobre como surgiu a ideia para o livro, o jornalista informa que tudo começou com a pandemia: “Iniciei esse projeto de pesquisa exatamente pelo momento que a gente vivia, em que a mídia cobria uma grande catástrofe global, longa, muito dolorosa, que foi a pandemia de Covid-19.”

Para embasar suas reflexões, Borges cruzou fronteiras e épocas, analisando coberturas jornalísticas de tragédias e mortes notórias em Portugal e no Brasil, entre o fim do século XIX e o início do XXI. O estudo interdisciplinar recorre à Antropologia, Filosofia, Literatura, Psicologia, História, Sociologia e Comunicação para compreender como a morte é representada e consumida pela mídia e pelos indivíduos de uma sociedade.

“Não é um livro que se propõe a ser pesado, triste, mas um livro que propõe uma reflexão um pouco mais detida sobre o significado da morte, as razões pelas quais nós temos tanto interesse por ela. E já que temos esse interesse, que seja proveitoso para nossa vida, não de um jeito fetichista, sádico ou “espetacularizado”, mas um interesse que nos guie por caminhos melhores enquanto temos a vida”, destaca o escritor.

Entre o espetáculo e a ética

Rogério Borges investigou desde desastres naturais e acidentes aéreos até falecimentos de personalidades públicas, como políticos, escritores, artistas e esportistas. O autor observa que, muitas vezes, o tratamento dado a essas mortes extrapola os limites do jornalismo ético, transformando a dor coletiva em uma espetacularização disfarçada de informação.

Um dos pontos mais debatidos na obra é o impacto dessas coberturas sobre os próprios jornalistas e o público, que podem desenvolver uma tolerância perigosa ao sofrimento humano. Para Borges, é necessário repensar esse tipo de prática e investir em formatos mais sensíveis, como o livro-reportagem, que permite aprofundar histórias com respeito e empatia.

A pesquisa também propõe um olhar crítico sobre o aumento de audiência em coberturas trágicas e questiona até que ponto a mídia deve seguir explorando o luto como ferramenta de engajamento.

“Essa atração pela morte é algo cultural, até da nossa própria natureza, mas quando nós exacerbamos essa exposição da morte, da dor, do luto, do sofrimento das outras pessoas, a gente acaba ingressando em outros campos mais sombrios (…) a gente precisa não querer expor a todo custo um momento em que a morte se faz presente coletiva ou individualmente”, alerta Rogério.

Trajetória consolidada no jornalismo e na academia

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Rogério Borges atua como repórter há 25 anos, com destaque para a cobertura cultural e literária no jornal O Popular. Além disso, é professor nos cursos de Jornalismo e Letras da PUC Goiás e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFG. Possui mestrado, doutorado e pós-doutorado em áreas ligadas à comunicação e literatura.

Entre suas obras publicadas, estão “Jornalismo Literário: Teoria e Análise”, “Caminhos da Reportagem”, “O Nascimento de Goiás” e “Contar Para Viver”. Em “Morrer em Público”, publicado pela Editora Insular, de Santa Catarina, Borges propõe uma reflexão urgente sobre os limites da cobertura da morte, ao mesmo tempo em que sugere alternativas mais éticas e humanizadas para o fazer jornalístico.

Lançamento do livro "Morrer em Público: Sensacionalismo, Fetichização e
Sadismo em Coberturas Jornalísticas de Tragédias e Falecimentos de Pessoas
Notórias em Portugal e no Brasil" por Rogério Borges
Data: terça-feira, 27 de maio
Horário: 18h às 20h30
Local: Livraria Palavrear – Rua 232, Nº 338, Setor Universitário
Entrada: gratuita

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